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O que o Pokémon me ensinou sobre acessibilidade

Escrito a mão por Bruno Pulis

Pikachu soltando raios em um episódio da série Pokémon.

Pulis Letters – Edição
Tempo de leitura: 5 minutos

Para quem me acompanha no Instagram, viu que postei um story falando sobre um sonho de adolescência.

Todas às vezes que ia ao supermercado fica desejando comprar o famoso Häagen-Dazs.

Acontece que, após adulto, decidi comprar.
Por que demorei tanto? O trem bom sô.

Fiquei pensando sobre o que escreveria para essa semana.
Lembrei de um roteiro de vídeo que nunca foi publicado.

Vamos lá.


Em dezembro de 1997 a série Pokémon, lançava um episódio que ficaria marcado na sua história.

O episódio 38° da primeira temporada, chamava-se: Denno Senshi Porygon.

Ash e seus amigos viajam em um universo alternativo digital.

Esse episódio tinha uma cena onde o Pikachu usa um choque trovão destrutivo para derrotar um míssil cibernético.

Acontece uma explosão que pisca luzes vermelhas e azuis muito rápido.

O que aconteceu com esse episódio?

Bom, o episódio teve que ser retirado do ar. Devido à combinação de cores muito rápidas várias pessoas passaram mal.

A situação foi tão séria que algumas pessoas reclamaram de:

  • Visão embaçada;
  • Dores de cabeça;
  • Tontura e náuseas.

Cegueira temporária, convulsões e perda de consciência também foram relatadas.

Dos 685 espectadores, 310 meninos e 375 meninas, foram levados a hospitais.

Mais de 150 pessoas foram internadas e duas pessoas permaneceram hospitalizadas por mais de duas semanas.

Outras tiveram convulsões, enquanto assistiam às reportagens que exibiam alguns trechos.

Dados importantes

A série parou de ser exibida durante 4 meses e quase foi cancelada e as ações da Nintendo caíram 5% na bolsa de valores.

Uma fração das 685 crianças tratadas foram diagnosticadas com epilepsia fotossensível.

A culpada por essa bagunça toda foi as luzes estroboscópicas.

A produção da série gravou um pedido de desculpa explicando tecnicamente o que aconteceu.

Quem diria que um descuido com a acessibilidade quase levaria uma série a ser cancelada e perder uma empresa perder valor de mercado ein!?

Por debaixo dos panos

Os flashes no desenho eram bem brilhantes, com uma taxa de 12Hz por 5 segundos.

Detalhe: era quase na tela inteira.

Isso acompanhado de uma duração 2 segundos, essa “pequena quantidade” fez um belo estrago.

Na WCAG, existem dois critérios de sucesso para tratar o uso de flashes, eles são:

2.3.1 Três flashes ou abaixo do limite

O objetivo deste critério é permitir que usuário acessem ao conteúdo completo sem induzí-los convulsões devido à fotossensibilidade.

Eu tenho epilepsia e não consigo ficar em ambientes com esse tipo de luz. Me dá tontura e prefiro sair de perto, balada não é meu forte.

Para evitar que isso aconteça, aplique essas técnicas:

2.3.2 Três flashes

Esse critério possui um nível de complexidade maior.
Ele garante que a aplicação esteja acessível para todos.

Resumindo:

  • O primeiro permite piscar se estiver suficientemente escuro;
  • O segundo não permite piscar mais de 3 vezes por segundo;

Para evitar que aconteça, use a técnica:


Qual a lição que tiro disso?

Nesse contexto, fica claro que a acessibilidade quando deixada de lado pode trazer muitos danos para as pessoas.

Ela não faz parte somente da área técnica, mas é viva.

Projetar ignorando essas regras pode trazer danos materiais e físicos.

Uma frase ilustra a lição que aprendi:

Estamos criando deficiências se não estivermos criando uma web para todos.

via @emplums no Twitter