Pulis Letters – Edição #21
Tempo de leitura: 5 minutos
Para quem me acompanha no Instagram, viu que postei um story falando sobre um sonho de adolescência.
Todas às vezes que ia ao supermercado fica desejando comprar o famoso Häagen-Dazs.
Acontece que, após adulto, decidi comprar.
Por que demorei tanto? O trem bom sô.
Fiquei pensando sobre o que escreveria para essa semana.
Lembrei de um roteiro de vídeo que nunca foi publicado.
Vamos lá.
Em dezembro de 1997 a série Pokémon, lançava um episódio que ficaria marcado na sua história.
O episódio 38° da primeira temporada, chamava-se: Denno Senshi Porygon.
Ash e seus amigos viajam em um universo alternativo digital.
Esse episódio tinha uma cena onde o Pikachu usa um choque trovão destrutivo para derrotar um míssil cibernético.
Acontece uma explosão que pisca luzes vermelhas e azuis muito rápido.
O que aconteceu com esse episódio?
Bom, o episódio teve que ser retirado do ar. Devido à combinação de cores muito rápidas várias pessoas passaram mal.
A situação foi tão séria que algumas pessoas reclamaram de:
- Visão embaçada;
- Dores de cabeça;
- Tontura e náuseas.
Cegueira temporária, convulsões e perda de consciência também foram relatadas.
Dos 685 espectadores, 310 meninos e 375 meninas, foram levados a hospitais.
Mais de 150 pessoas foram internadas e duas pessoas permaneceram hospitalizadas por mais de duas semanas.
Outras tiveram convulsões, enquanto assistiam às reportagens que exibiam alguns trechos.
Dados importantes
A série parou de ser exibida durante 4 meses e quase foi cancelada e as ações da Nintendo caíram 5% na bolsa de valores.
Uma fração das 685 crianças tratadas foram diagnosticadas com epilepsia fotossensível.
A culpada por essa bagunça toda foi as luzes estroboscópicas.
A produção da série gravou um pedido de desculpa explicando tecnicamente o que aconteceu.
Quem diria que um descuido com a acessibilidade quase levaria uma série a ser cancelada e perder uma empresa perder valor de mercado ein!?
Por debaixo dos panos
Os flashes no desenho eram bem brilhantes, com uma taxa de 12Hz por 5 segundos.
Detalhe: era quase na tela inteira.
Isso acompanhado de uma duração 2 segundos, essa “pequena quantidade” fez um belo estrago.
Na WCAG, existem dois critérios de sucesso para tratar o uso de flashes, eles são:
2.3.1 Três flashes ou abaixo do limite
O objetivo deste critério é permitir que usuário acessem ao conteúdo completo sem induzí-los convulsões devido à fotossensibilidade.
Eu tenho epilepsia e não consigo ficar em ambientes com esse tipo de luz. Me dá tontura e prefiro sair de perto, balada não é meu forte.
Para evitar que isso aconteça, aplique essas técnicas:
- G19: Garantindo que nenhum componente do conteúdo pisque mais de três vezes em 1 segundo período;
- G176: Mantendo a área intermitente pequena o suficiente;
- G15: Usando uma ferramenta para garantir que o conteúdo não viole o limite geral do flash ou limiar de flash vermelho.
2.3.2 Três flashes
Esse critério possui um nível de complexidade maior.
Ele garante que a aplicação esteja acessível para todos.
Resumindo:
- O primeiro permite piscar se estiver suficientemente escuro;
- O segundo não permite piscar mais de 3 vezes por segundo;
Para evitar que aconteça, use a técnica:
Qual a lição que tiro disso?
Nesse contexto, fica claro que a acessibilidade quando deixada de lado pode trazer muitos danos para as pessoas.
Ela não faz parte somente da área técnica, mas é viva.
Projetar ignorando essas regras pode trazer danos materiais e físicos.
Uma frase ilustra a lição que aprendi:
Estamos criando deficiências se não estivermos criando uma web para todos.
via @emplums no Twitter