Antes de mais nada, me vejo no dever de deixar claro que este post não é uma forma de doutrinar ninguém a fé cristã ou qualquer outra. Apenas estou fazendo um paralelo entre o estudo teológico e seus desdobramentos e o que isso contribuiu para mim.
Introdução
Há poucos dias decidi retornar ao Twitter. Recentemente tinha deletado minha conta por um certo esgotamento de redes sociais. Por esse motivo, fiquei por fora de algumas novidades e vi a necessidade de retornar.
Uma das coisas que senti mais falta foi a interação da comunidade de desenvolvedores no Twitter que é algo lindo de se ver.
Retornando, me deparei com a iniciativa help4Papers que tem como objetivo auxiliar desenvolvedores que querem começar a palestrar, achei fantástico a disponibilidade e boa vontade dos fundadores em ajudar as pessoas. Eles têm algumas dicas bem legais e vale a pena segui-los.
Teologia?
Talvez você estranhou o título desse post, mas irei explicar. Para quem me conhece, sabe que sou apaixonado por duas coisas: teologia e frontend.
Minha história com teologia vem desde a adolescência, sempre fui uma pessoa curiosa que procurava conhecer os princípios e fundamentos de como o mundo funciona. Aprendi um pouco de grego e hebraico e fui tomando gosto pela coisa.
Na faculdade de TI me interessei mais pelo o frontend, pelo fato de lidar com problemas reais que os usuários passam com interfaces. O fascínio pela experiência do usuário e as possibilidades que o CSS oferecia me encantou na época e, mais tarde, me apaixonei por acessibilidade web.
Unindo paixões
Na teologia não estudamos somente a Bíblia, temos diversas matérias como: sociologia, psicologia, antropologia e filosofia. Uma das matérias que me ajudou foi a Homilética, que por definição é:
É a arte de pregar, ou seja, utilizar os princípios da retórica com a finalidade específica de falar sobre o conteúdo da bíblia sagrada cristã.
Este termo acabou por originar a palavra homilia, que quer dizer “discurso com a finalidade de agradar”[1].
Ela procura ajudar o pregador a comunicar a mensagem de forma clara e inteligível. No mundo do desenvolvimento, conheço diversas pessoas que tecnicamente são excelentes, mas como comunicadores ainda não são bons. Necessitamos de nos comunicar bem, afinal, nem só de código viverá o desenvolvedor, mas de uma comunicação efetiva e clara.
Vivemos em uma era onde a comunicação é essencial e não investir nisso seria um pecado capital.
Os princípios da homilética auxiliam na comunicação da mensagem. Já perdi as contas de quantas vezes o palestrante era um bom técnico e um péssimo comunicador. Fica aquela sensação de sair da palestra sem entender nada do que foi dito. Certamente algum ruído de comunicação ou despreparo ocorreram para que isso ocorresse.
Minha experiência
Me arrisquei como palestrante algumas vezes. Em 2017 palestrei em dois eventos: DevFest Nordeste e o DevFest Belo Horizonte (agradecimentos a: Jader Gomes, Marcus Silva, Yan Magalhães e Thiago Almeida).

Como eu tinha uma prévia experiência em pregar na igreja, encarar o público não foi o maior desafio, mas sim o preparo técnico das palestras. O que sempre vamos ter são o frio na barriga e a expectativa de como o público irá reagir e muito dessa expectativa começa através de você.

Você é o comunicador que irá transmitir uma mensagem e sua desenvoltura para isso pode te levar ao sucesso ou ao fracasso. O conteúdo pode ser excelente, porém se a forma de comunicar for ruim, todo o trabalho é levado água abaixo.
Me recordo da primeira vez que fui chamado pra falar uma mensagem pra igreja. A mensagem durou em torno de 15 minutos — tinha 45 minutos para gastar. Basicamente nessa ocasião, falei igual um foguete e terminei logo (rs).
Dicas
Tenha uma postura corporal positiva
A postura do palestrante no palco é de extrema importância, a linguagem corporal fala muito mais do que a verbal. Nossa postura é avaliada enquanto falamos, por isso é importante ter uma postura confortável que gere uma sensação de relaxamento em você e na plateia. Ficar travado, encurvado, com os ombros caídos, dá uma sensação ao ouvinte que o assunto é cansativo e enfadonho, ou até que você não está preparado, e isso não é o que queremos…
Expressões faciais
Evite expressões faciais muito fortes como: rosto franzido, olhar severo e um semblante fechado, procure sorrir sempre que possível e envolva a plateia em uma estória. A técnica de storytelling ajuda demais nesse sentido. Também utilizar GIF’s em momentos adequados ajuda a quebrar o gelo.
Outra dica: não fixe o olhar em uma única pessoa, olhe na altura dos olhos das pessoas e mire em um ponto distante. Assim, evitamos de sermos invasivos ou de ficarmos marcando as pessoas.
Falhas na emissão da voz
Existem certos padrões de vozes que se não tomarmos cuidado atrapalham na hora de comunicar a mensagem, dentre eles podemos citar:
- Voz estridente;
- Voz fanhosa;
- Voz monótona;
Caso, você tenha algum tipo de voz citado acima não se desespere! Com treinamento e modulação da sua voz, você aumentará consideravelmente o alcance da mensagem.
Uma regra de ouro é: procure falar pausadamente, sem querer correr com o conteúdo. Seja paciente e fique tranquilo.
O vídeo abaixo mostra sobre a modulação da voz de maneira fenomenal:
_Como falar de forma que as pessoas queiram ouvir_
Se o tom de sua voz é baixo e tranquilo, procure aumentar o tom dando ênfase em partes importantes do seu conteúdo.
Ruídos na comunicação
No nosso dia a dia, utilizamos alguns ruídos de comunicação como: forças de expressão, clichês, gírias regionais e etc. E isso pode influenciar positivamente ou negativamente na sua apresentação.
Procure entender seu público, por exemplo, eu palestrei em Salvador (❤) tive o cuidado de perguntar aos organizadores se deveria evitar certas expressões, afinal o Brasil possui diversos dialetos regionais. Um exemplo, é o famoso “bolacha ou biscoito”.
Na minha talk como forma de descontração (mas com prevenção) também usei uma expressão que os baianos usam com frequência: o LÁ ELE (se você tem um amigo baiano pergunte a ele o significado).
Consegui fazer a plateia ficar à vontade e pude seguir em frente. Em um dos slides, usei gírias regionais que eles caíram em gargalhadas. No final, alguns elogiaram pelo o esforço de procurar essa “conexão”.
Devemos encontrar essa “conexão” ou contexto com o ouvinte e, assim, conseguimos prender a atenção deles de forma efetiva. O conteúdo fica muito mais rico quando criamos essa ponte entre o palestrante e o público.
Dicas finais
- Melhore o som da sua voz: procure pronunciar as palavras corretamente, evitando falar com a boca fechada, falando em um tom adequado, alterando a potência de vez em quando para enfatizar coisas importantes;
- Fale com os olhos: antes de falar qualquer palavra, cumprimente silenciosamente as pessoas com “um sorriso nos olhos”, procurando identificar cada pessoa, em lances rápidos de olhar.
- olhe para as pessoas, comunique-se com elas através de expressões, transmita segurança e sinta o que elas estão sentindo enquanto ouvem suas palavras.
- Seja zueiro, conte piadas, abuse dos gifs: não aborde de cara o assunto, use storytelling, descreva uma experiência, relate seu trajeto até o local. Aborde uma situação alegre. Lembre-se: até os grandes pregadores podem temer durante uma mensagem. O temor e tremor é natural. Encare isto com tranquilidade. É uma questão de tempo.
- Atualize-se: estude sobre o assunto, invista tempo pesquisando, lendo, estudando, testando e codando principalmente. O hábito da leitura é primordial para ser um palestrante que sabe comunicar. Quem lê mais, sabe mais;
- faça com amor: compartilhar conhecimento é uma das melhores coisas da nossa área, ver o crescimento das pessoas por algo que ensinamos não há dinheiro que pague. E também se divirta!

Conclusão
Através de estudo e dedicação você vai conseguir palestrar de maneira agradável e segura.
Lembre-se, é um processo de contínuo aprendizado.
Usando essas dicas você conseguirá alcançar resultados interessante.
Tem mais alguma dica sobre o assunto? Compartilhe comigo.
Grande abraço.
Extras
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Bibliografia
SIGNIFICADOS. Significado de Homilética. Disponível em: https://www.significados.com.br/homiletica/ Acesso em: 16 de junho de 2018.